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A raposa e o pequeno príncipe

Publicado em 24 24UTC abril 24UTC 2008 por ruthfsouza

— Bom dia, disse a raposa.

— Bom dia, respondeu o pequeno príncipe.

 

— Vem brincar comigo…Estou tão triste…

 

— Que procuras?

— Eu procuro amigos…

 — Não posso brincar contigo, ainda não me cativou…

 

— Que quer dizer "Cativar"?

— Cativar é uma coisa muito esquecida que significa "Criar Laços".

— Criar laços?

— Exatamente. Tu não és para mim senão inteiramente igual a cem mil outros.

     E eu não tenho necessidade de ti.

     E tu não tens também necessidade de mim.

     Não passo a teus olhos igual a cem mil outras.

     Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.

     Serás para mim único no mundo.

     E eu serei para ti única no mundo…

 

— Começo a compreender…

— Por favor…Cativa-me!

— Bem quisera, mas eu não tenho muito tempo.

—Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

— Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.

     Compram tudo prontinho nas lojas.

     Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.

     Se tu queres uma amiga, cativa-me.    

     Minha vida é tão monotona. Mas se você me cativar tudo será diferente.

     Minha vida será como que cheia de sol.

     Então será maravilhoso quando tiveres me cativado.

     A gente só conhece bem as coisas que cativou.

 

— Que é preciso fazer?

— É preciso ser paciente.

    Tu sentar-te-às primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva.

    Eu olhar-te-ei com o canto do olho e tu não dirás nada.

    A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…

   Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, a partir das três começarei a ser feliz.

   Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz…

   Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada; descobrirei o preço da felicidade!

   Seria melhor voltares a mesma hora.

   Se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração.

  É preciso ritos.

  Ritos é o que faz que um dia seja diferente de outros dias, uma hora das outras horas.

  Os meus caçadores por exemplo, possuem um rito, dançam na quinta-feira com as moças da aldeia.

  A quinta feira então é um dia maravilhoso prá mim!!!!

  Vou passear até a vinha…

  Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais e eu não teria férias…

  

Existe uma flor…E creio que ela me cativou…

 

— É possível…Vê-se tanta coisa na terra.

 

Quando ela descobrir que existem milhões de flores iguaizinhas a ela, isso vai cortar seu coração…

 

— Eu me julgava rico, achei que tinha uma flor sem igual no mundo inteiro, mas é apenas uma rosa comum que eu possuo.

 

 Finalmente entendi tudo, eu a cativei e agora ela era única, pelo menos prá mim, minha rosa não era como todas aquelas outras, pois foi ela que eu reguei, foi ela que eu pus sobre a redoma, foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se ou mesmo calar-se algumas vezes, agora era minha a rosa e era responsável por ela, e eu tinha que voltar para tomar conta dela.

 

   Ficamos juntos por bastante tempo, mas um dia eu tive que dizer Adeus.

   Mas quando chegou a hora da partida, disse:

— Ah! Eu vou chorar.

 A culpa é tua, eu não te queria fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse…

— Eu quis…

— Mas tu vais chorar!

— Vou…

 

 Então, você não lucrou nada! Foi tudo uma perda de tempo.

 

— Por você ter perdido tanto tempo comigo, você me fez sentir importante.

 

Mas agora eu me sinto totalmente responsável por você.

 

— Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.

— Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa…

 

— Adeus…

— Adeus…

 

— Eis o meu segredo. É muito simples: Só se vê bem com o coração.

     O essencial é invisível para os olhos.

     Os homens esqueceram essa verdade. Mas tu não a deves esquecer…

     Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas…

 

     Do livro  O Pequeno Príncipe